23 de set. de 2010

O PRIMEIRO AMOR

O nome dele era Belnaldo, uma junção de Beloni e Flornaldo, seus pais que além de péssimos em nomear os filhos eram religiosos e zelosos com a educação dos guris. assim Belnaldo cresceu, temente a Deus e aos pais.
Tornou-se um jovem de boa índole porém tímido e por conseguinte, um tapado. Certo dia resolveu enfrentar a cidade grande, saiu do interior para a capital devido a absoluta falta de perspectiva de futuro na pequena propriedade de seus pais pois a mesma seria dividida entre seus doze irmãos, Fleloni, Benaldo, Aldoni, Flobel, Oniflo, Belflo, Aldobel, Oninaldo, Florabel, Loninaldo, Floloni e Belonaldo.
Os pais de Belnaldo eram religiosos mas nem por isso deixavam de molhar o biscoito e isso nosso herói absorveu durante sua educação. Logo que desembarcou na capital enlouqueceu com as moças da rodoviária e planejou; Primeiro um emprego depois, logo depois, uma namorada.
O emprego veio depois de oito meses, quando já estava sem dinheiro nem para comer pão com banha conseguiu colocação numa obra perto da pensão onde fora morar. A namorada apareceu na sua vida em frente a Igreja que frequentava aos domingos para agradecer aos santos a vida legal que recebera deles.
Como se estabeleceu o dialogo, como juntaram seus corações é um mistério, o que interessa mesmo é que Belnaldo e Creuzinha começaram a viver um para o outro. Na verdade era mais Belnado para Creuzinha do que Creuzinha para Belnaldo.
Ele não era nenhum estrupício mas não servia para galã de quermesse, era meia boca. Creuzinha não era nenhuma beleza mas tinha lá seus predicados, cabelos loiros Viena Hair e um corpo malhado, segundo ela nos afazeres de seu serviço.
O romance seguia seu mavioso caminho. Creuzinha fazia com Belnaldo o joguinho da moça casadoira, encabulava a cada beijo, fazia charminho de virgem a cada carinho recebido e não aceitava ousadias. Jamais fora com ele a pensão, nem mesmo queria saber onde era, para não  pensar em bobagens.
Encontravam-se sempre, em frente ou perto ou nos fundos da Igreja. Belnaldo ficou gamado, apaixonou-se, entregou seu coração a santinha que lhe caíra do céu.
O tempo passou e como tapado não é de ferro logo Belnaldo começou a sentir os chamados da carne. Ah, os amassos atrás da Igreja! Como bom rapaz procurou água para seu fogo com quem amava. Ela, Creuzinha negou uma vez, duas vezes, três vezes e antes que ela lhe negasse pela quarta vez Belnaldo desistiu e deu-lhe razão, afinal moça recatada casa donzela.
Esta conclusão estapafúrdia até poderia ser correta mas deixou-o sem saber o que fazer antes que seu fogo virasse incêndio.
Foi um colega de pensão que lhe deu a idéia de procurar uma prostituta. Belnaldo matutou muito sobre a dica recebida e depois de muita luta com as próprias mãos resolveu arriscar no palpite do colega. Nos classificados de um grande jornal, seção massagistas especiais pegou um número e foi ao corredor da pensão, em frente ao telefone espreitou, não havia nínguem, discou.
- Samanta a seu dispor!
- Aqui é o Belnaldo li no jornal que ai tem mulher que...
- Só tem meu querido, só tem! Como me diz meu macho vendo a Carla Perez, o que te falta aqui abunda!
- Bom, eu precisando, sabe, para ter uma idéia fazendo sozinho, se eu fosse o Pinóquio já teria pegado fogo !
- Quer só uma? Temos promoção para quantidade!
- Não sei direito o que fazer com uma, imagina...
- Qual tua preferência, gorda, magra, loira, morena, ruiva. Tem as que fazem de tudo e as que fazem de tudo e mais um pouco...
- Dá para escolher assim é?
- Digamos que tenho uma grande variedade em estoque e com as facilidades de hoje, mudamos a cor, enchemos, esvaziamos... Qualquer coisa em pouco tempo.
Belnaldo logo pensou na sua santinha e sem titubear pediu uma que se parecesse com ela. Havia uma em estoque. Acertado o preço e os detalhes foi-lhe prometido que no máximo em uma hora receberia a encomenda na pensão.
Ansioso, Belnaldo voltou ao quarto, cheirou as axilas, escovou os dentes e penteou-se cento e dezoito vezes. Ao ouvir as batidas na porta correu e a abriu, junto abriu sua boca falhada num sorriso imenso que amarelou ao constatar que a sua frente estava nada menos que a Creuzinha. Não a de sempre, era outra, mais bonita, lábios vermelhos, cabelos soltos, vestido curto e sapatos de salto.
Belnaldo, assustado pensou em voz alta;
- Creuzinha, tu aqui ? Em minha pensão, no meu quarto, nós combinamos de não...
Rápida e hábil ela interrompeu-o;
- Surpresa amor, queria te fazer uma surpresa, hoje resolvi aceitar tuas propostas!
- Co-como assim Creuzinha?
- Tu não queria ?
Não deu tempo para Belnaldo pensar, Creuzinha agarrou-se a ele e o arrastou para a cama. Deu a ele o que ele queria e mais umas quatro ou cinco coisas que ele nem sabia que queria. Foi uma ação tão arrasadora que deixou Belnaldo mais anuviado do que já era e como todo bom anuviado apaixonado resolveu contar a ela o que havia programado para aquela noite, chorou e prometeu que assim que a moça chegasse dispensaria seus serviços.
Compreensiva como só ela poderia ser, Creuzinha deu-lhe seu perdão mas antes arrancou dele a promessa de casarem-se em breve.
No outro dia Belnaldo procurou o colega que lhe dera a dica, contou-lhe o ocorrido e lembrou-lhe que o pecado não leva a nada e que o conselho que lhe dera poderia ter interrompido seu caso de amor, sua felicidade.
O colega ficou abismado.
- E a Puta que tu mandou vir...Veio?
- Não, graças a Deus...
Incrédulo, o colega escorou-se na parede.
- Sabe Belnaldo, se a base da felicidade fosse a verdade certamente ela não existiria... Tens razão foi um palpite infeliz que te dei!

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