3 de out. de 2011

ANOS SESSENTA - 01


     Eram estranhos os anos sessenta, o próprio nome quase se define como um pleonasmo, Na época eu tinha a idade, os sonhos e as atitudes de desobediência do filho do Gepeto, havia uma diferença a considerar, ele era todo de pau eu só tinha a cara, mas havia outras, quando o Pinóchio mentia seu nariz crescia, o meu não, quando ele se masturbava pegava fogo, eu não.  
      Bom, não vou ficar valorizando firulas vamos ao que interessa.
    Lembram da espetacular solução encontrada pela mídia do pós guerra incrustando em nossas cabeças a mórbida tecnologia desenvolvida durante a guerra e a super valorização do amante da Eva para que ficássemos envergonhados por não termos lutado contra ele. Isso ufanava nossa antecessora geração, eu chegava a ouvir em suas atitudes; Viu guri! Visavam à alienação dos jovens para poderem descansar em berço esplêndido, heróis que derrotaram um alemãozinho de bigode comprometedor, mas isso depois de muito apanharem do ariano. 
    Faziam filmes tentando nos infringir tenentes austeros, cumpridores de seus deveres que ao cair da noite tornavam-se patéticos sonhadores agarrados as fotos de suas amadas. Os filmes terminavam invariavelmente com eles trocando beijos com sua amada no porto de New York. Viu guri!
     Mas isso não ficaria assim! Quando já caminhávamos cabisbaixos, tirávamos o chapéu para os pais de nossas namoradas, usávamos roupas iguais as deles, quando começávamos a nos orgulhar deles eis que surgem alguns jovens ousados que perceberam que um tenente jamais conseguiria dar ordens a alguém em pleno tiroteio, que as moças das fotos não ficariam chorosas a espera de seus amados e uma guerra não tinha fundo musical.
      Esses jovens então começaram a utilizar a tecnologia que lhes fora imposta para criar a guitarra, os carros envenenados, os motociclos carregados de liberdade e muito mais. Invenções que jogaram tão rapidamente a guerra no esquecimento que enquanto o concreto utilizado nos monumentos erguidos aos heróis secava, sob suas sombras reuniam-se bandos de jovens, entre eles uma coleção de gênios. Nessa genialidade cultural a indústria e o comércio perceberam que estávamos ansiosos por uma nova e revolucionária forma de felicidade e colocaram-se em prontidão para agir e faturar. 
    Maravilhoso porto seguro, nossos donos embevecidos e convencidos de sua superioridade pelo que haviam feito no final dos anos quarenta, simplesmente desconsiderando os valores e os desejos da juventude, da genial juventude que surgia a cores e cheias de novos valores. Liberdade, era a hora do Rock, da arte popular. O cinema, o rádio e a televisão seguiram impávidos atrás deste emergente filão e encarregaram-se da retirada de cena do então valorizado “convívio familiar”.
    O carro chefe era sem dúvida a indústria cinematográfica tanto que podemos afirmar sem medo que a gonorréia, se não surgiu espalhou-se acalentada nas poltronas das salas de exibição que não tinham tempo de esfriar entre uma sessão e outra. Nossos heróis de guerra não tinham a menor idéia do que estava ocorrendo perceberam tarde demais que os ídolos lançados para nos distrair e angariar lucros eram muito mais do haviam imaginado. Tentaram nos impedir de sermos percalço na implantação de suas ideologias com um estratagema inócuo, pois deixaram um caminho aberto que soubemos trilhar com maestria.
    Produziram Elvys Presley para que vivêssemos momentos de paixão, mas esqueceram-se de vigiar seu rebolado e quase todas as pélvis entre os quinze e vinte anos também se mexeram. Isso deu um tesão! Hendrix, Joplin entre outros trouxeram consigo as drogas e nos entregaram, isso deu um barato! Eles estavam ocupados cheirando rastros de comedores de criançinhas numa inútil guerra fria criada para manter viva e unida a casta guerreira.
   Quando foram nos dizer pela terceira vez; Viu guri! Nós não estávamos mais ali para ouvir.

Marconi 
Obs. Isto não termina aqui....