19 de nov. de 2010

PADRE SALOMÃO

Eu conheci este padre. Quando jovem não era de pular o muro da escola com o zézinho, mas também não caminhava contra o vento sem lenço, nem documento. Não deixava ninguém se enrolar nos caracóis de seus cabelos. Macho, homem rude da roça.
Uma noite, sentado a beira de um açude viu a imagem branca de uma Santa andando sobre as águas, para ele um sinal. No outro dia, ao mesmo tempo em que sua mãe procurava pelo lençol que o vento levara do varal entrou para o seminário.
Os padres possuem o privilégio de mudar seu nome de batismo quando ordenados, alguma jogada de markenting. Assim sendo, ele, Anastácio, julgando-se o mais sábio entre seus pares escolheu o nome de Salomão.
Sua inteligência não podia ser contestada mas sua capacidade de julgar, o pavio curto e suas grosserias eram criticadas por seus pares, ímpares, múltiplos de três e por seus números primos.
Além destes predicados pecava pela desatenção. Totalmente dispersivo. No dia de sua ordenação o Bispo entrou na Igreja e todos levantaram-se menos ele. O colega ao lado cutucou-o.
- Não levanto, quem trabalha em pé é ginecologista anão!
Não satisfeito com a maravilhosa frase que havia proferido ainda fazia gestos com as mãos tentando explicar a altura do anão e apontando para a própria mãe o local de trabalho do ginecologista. Não fosse o grito do colega a explicação virava palestra.
Durante os comes e bebes dos festejos da ordenação, Padre Salomão, orador da turma partiu para o discurso, reconhecido até hoje como exemplo de sua personalidade;
- Senhor Bispo, Pai, mãe, irmãos e irmãs, início agora uma nova vida, terei momentos de lombriga em barriga rico mas, sei dos momentos de sofrimento em que como pica de portador de continência urinária derramarei lágrimas a cada passo.
Acabo de receber minha primeira missão. Eu aguardava essa missão e a recebo como Cristo esperou os pregos, de braços abertos, só que não ficarei de pernas cruzadas. Caminharei rumo a igreja da favela em cumprimento ao dever junto aos pobres. Não temo a pobreza! Criei-me comendo barro para cagar tijolo e é com esses tijolos que edificarei meus sonhos, minhas metas e talvez hemorróidas.
Serei digno do cargo de representante do homem na favela.
Os senhores e as senhoras que me viram nascer no mato junto a minha casa. Os senhores e senhoras que viram eu ser concebido junto a sanga naquele convescote, vocês que me viram menino, depois moço saudável e viril, corrido a pau de perto de suas filhas confiem em mim. sobre esta batina esconde-se um lutador, forte como tapa de cafetão, persistente e metido como pentelho em boca de velho mas, temente ao Senhor, temente como gurizote indo para a zona.

O estilo do padre Salomão ficou conhecido na favela após muitas ovelhas de seu rebanho procurarem seus conselhos. Seu modo cru, sem sutilezas cativou a todos.
Uma de suas sábias lidas ocorreu num sábado à tarde quando preparava-se para seu sagrado soninho e foi interrompido pela campanhia. Sua reação foi instantânea;
- Não da para apertar o clitóris da mãe?
Uma voz aflita de senhora clamou;
- Padre Salomão!
Ele tentou esqueçer, ficou calado, quieto.
- Padre Salomão!
Continuou quieto.
- Padre Salomão!
Levantou-se resmungando uma ladainha que não seria aceita em nenhuma procissão. Abriu a porta. Era dona Maria, uma devota que não lhe deu tempo para esparramar os impropérios que pensara. Entrou no recinto.
- Padre com um pobremão!
- Três dona Maria, três! O primeiro é esse que a senhora ainda não me falou, o outro é a petulância e o terceiro é a mão na cara estou a fim de...
- Padre é causo sério. O Marião, meu marido, chega em casa todo dengo e vem prá cima de mim, cutuca, aperta, chera meu cangote. com desvio de conduta!
- Dona Maria, ele esta é com desvio de sépto para cheirar um cangote desses!
- Ah, isso eu não sei Padre se ele tá septo ou errado, é o que quero sabê, devo dar atenção prá ele ou é pecado?
- Dona Maria, a senhora deve dar para ele não só atenção, pelo amor de deus dá o que ele quiser!
- Padre Salomão, o senhor não tem idéia do que ele quer.
- Se eu tenho idéia não interessa, da para o Marião o que é do Marião!
- Pronto, vô dá!
Antes de começar a missa das seis o padre Salomão avistou Dona Maria chorando copiosamente junto a uma coluna da igreja. Aproximou-se dela e notou alguns hematomas em seu rosto;
- Dona Maria o que houve?
- Ah, padre! Fiz como o senhor mandou, dei pro Marião o que era dele, a geladeira, dois cobertores, as roupas, tudo e acabei apanhando.
- Mas não era isso Dona Maria, eu falei de sexo, seu marido queria sexo!!!
- Eu sei padre!
- Então dona Maria porque não lhe deu?
- Como padre, se não é dele?
- Ai meu saco! Eu sei que é seu, que não é dele, é um modo de falar, se ele é casado com a senhora é como se fosse dele!
- Mas não é, é do cumpadri Jorgi!!!



Nenhum comentário:

Postar um comentário