29 de mai. de 2011

BRASIL, MOSTRA TUA CARA


         Existem falas, textos ou imagens que precisam e merecem ser divulgadas, é o caso da coluna de Augusto Nunes da Revista Veja. Não há notícias não sabidas, mas um alinhamento de acontecimentos. Vale, nem que seja apenas pela ironia.

O caseiro do Piauí e a camareira da Guiné

     Nascido no Piauí, Francenildo Costa era caseiro em Brasília. Em 2006, depois de confirmar que Antonio Palocci frequentava regularmente a mansão que fingia nem conhecer, teve seu sigilo bancário estuprado a mando do ministro da Fazenda.
      Nascida na Guiné, Nafissatou Diallo é camareira em Nova YorK. Em maio de 201, sofreu um ataque violento por parte do hóspede Dominique Strauss-Kahn, diretor do FMI e candidato à presidência da França, que tentou estuprá-la.
      Consumado o crime em Brasília, a direção da Caixa Econômica absolveu o culpado e acusou a vítima de ter-se beneficiado de um estranho depósito no valor de R$ 30 mil. Francenildo explicou que o dinheiro fora enviado pelo pai. Por duvidar do caseiro, a Polícia Federal interrogou-o até concluir que ele dissera a verdade.
     Consumado o crime em Nova York, a direção do hotel chamou a polícia, que ouviu Nafissatou. Confiando na camareira, os agentes conseguiram prender o hóspede suspeito dois minutos antes de embarcar para Paris, e para a impunidade perpétua.
     Até depor na CPI dos Bingos, Francenildo, hoje com 28 anos, não sabia quem era o homem que vira várias vezes chegando de carro à “República de Ribeirão Preto”. Informado de que se tratava do ministro da Fazenda, esperou, sem medo, a hora de confirmar na Justiça o que dissera no Congresso. Nunca foi chamado para detalhar o que testemunhou. Na sessão do Supremo Tribunal Federal, ele se ofereceu para falar. Os juízes se dispensaram de ouvi-lo. Decidiram que Palocci não mentiu e as provas eram insuficientes para a aceitação da denúncia.
       A camareira foi levada para fazer o reconhecimento do agressor. Só então descobriu que o estuprador é uma celebridade internacional. Nafissatou, muçulmana de 32 anos, disse que acreditava na Justiça americana. Sempre jurando que era sexo consensual, o acusado foi soterrado pelas evidências e recolhido a uma cela.
     Maio 2011, Francenildo completou cinco anos sem emprego, ninguém se atreveu a amparar o caseiro e Palocci perdeu a voz quando o país soube do milagre da multiplicação do patrimônio. Pela terceira vez em oito anos, está de volta ao noticiário político-policial.
      Enquanto se recupera do trauma, a camareira recebeu um comunicado da direção do hotel: “Estamos completamente satisfeitos com seu trabalho e seu comportamento”, diz um trecho. 
      Estimuladas pelo exemplo da imigrante africana, outras mulheres confirmaram que a divindade do mundo financeiro é um reincidente. Depois de cinco noites num catre, Strauss pagou a fiança de um milhão de dólares para responder ao processo em prisão domiciliar e com uma tornozeleira eletrônica.
      Livre, Palocci elegeu-se deputado, e graças a Dilma Rousseff está a quatro meses na chefia da Casa Civil, como primeiro-ministro. Atropelado pela descoberta de que andou ganhou muito dinheiro como traficante de influência, tenta manter o emprego. Talvez consiga. O Brasil dos delinquentes cinco estrelas é um convite à reincidência.
     Strauss renunciou à direção do FMI, sepultou o projeto "Presidente da França" e é candidato a uma longa temporada na gaiola. Descobriu que, nos Estados Unidos, todos são iguais perante a lei. Não há diferenças entre o hóspede do apartamento de 3 mil dólares por dia e a arrumadeira.
     Se tentasse fazer lá o que faz aqui, Palocci não teria ido além do 1º item do prontuário.                                Se escolhesse o País do Carnaval para fazer o que fez nos Estados Unidos, Strauss se arriscaria a ser convidado para comandar o Banco Central. 
       O azar de Francenildo foi não ter tentado a vida em Nova York. 
    A sorte de Nassifatou foi não viver num país que absolve o criminoso reincidente e castiga quem comete a honestidade.

      Lendo o texto fico achando que no Brasil a corrupção é compulsória. Sabe-se que a corrupção não começa pelo povo, mas o problema é que um povo corrompido não tolera um governo que não seja corrupto. Será este o nosso caso?

Obs. O texto de Augusto Nunes não esta em sua forma original.

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