29 de out. de 2010

OUTRA

Juvenil chegou se abrindo, teclado à mostra, ria a toa de tudo e de todos.
- E aí, Nerso tudo em cima?
- Que é isso Juvenil, sou teu chefe, respeito! Três dias sem aparecer no serviço e...
- Seguinte chefia, coisa triste, coisa de homi, vou te falar por que é meu amigo e me dá conseio...
- Primeiro Ju, não sou amigo, sou chefe. Segundo quem te deu com seio foi tua mãe e agora tua bisca!
- Pô Nerso, acertou nas veia é isso daí. Fartei por causa da bisca, descobri umas coisas dela que não dá prá falá!
- Só tu não sabia e todo mundo te avisava, só tu não sabia porque não queria saber.
- É mas desta vez foi ela que me falou...
- Ela conseguiu falar, não estava de boca cheia, maravilha!
- Que é isso Nerso, fiquei no chinelo, cai de quatro, temporal de lágrimas. Doido de dor saí pros bar. E, cara, Deus é pai acabei me achando...
-Te achando?
- É, me apareceu um anjo, caído do céu, uma moça linda prá me consolar. Disse que há muito esperava alguém como eu. Toda noite naquele bar pensava, naquela mesa tá fartando ele e...
- Juvenil, tu continua o mesmo. Deixa eu adivinhar, apaixonou na hora!
- Isso daí Nerso, era um anjinho loira de olho azul.
- Uma alemoa que saiu correndo da roça para cair na vida, abre os olhos meu.
- Não chefia, moça mesmo, linda, tesão, tesão, tesão! Tesão e anjo!
- Juvenil, nem toda mulher que tem asa é anjo a maioria delas é relaxada mesmo.
Qué saber Nerso, me afastei, saí rolando, contigo não dá prá conversar, principalmente essas coisas de amor.
- Amor de bar? Não sei por que o Cupido não atira aquela flecha no meio dos teus miolos. 
- Pô Nerso!
- Tá, chega de conversa mole, e os três dias de falta o que eu digo para o setor de pessoal?
- Bota aí que eu tava caídasso, deprê!
- Já sei, faltou três dias para troca de equipamento. 
- Nerso, assim, troca de equipamento.  estraçaiando com meu anjinho. Respeito, Nerso!
- Não estou falando delas, me referindo as tuas guampas!

21 de out. de 2010

MANSO

O cara era um boêmio convicto, em inglês eideisuíque. Madrugada, barzinho, violão, amigos notívagos, vida desregrada, uma beleza. A tarde, quando a vontade pegava, fechava as janelas do escritório e servia a bebida, dali em diante não parava mais até ser arrastado para casa, onde estivesse.
Boêmio de amizades, conversas sem fundamento e muita música. As mulheres deixava apenas seu agrado, pagava bebidas a todas que sentassem em sua mesa, as mais novas e belas, vinho ou whisky e muitas vezes músicas de seu imenso e tosco repertório. As decaídas, velhas que insistiam naquela vida, merthiolate ou mercúrio e muitas vezes seus conselhos sobre os diversos males que as estavam a perseguir. As gordas lhe agradava vê-las ali, em lugar de penumbra pois logo estariam vendo a luz. As magras ele as tinha como Juncos da lagoa, curvando-se açoitadas pelo vento porem sem esmorecer. 
Pensador, filósofo sem estudo e por vontade da bebida tinha lá suas manias e naturalmente teorias. conhecia a todos no bar. Botão, um sujeito que morava em uma casa sem pagar o aluguel, era seu melhor companheiro levou-o num final de noite a sua morada e se deu a fatalidade. A irmã de Botão estava lá, vinda do interior.
Ela estava lá, linda, exuberante, recheada e expirando charme. O boêmio apaixonou-se. Passaram-se dois meses e casou-se com ela.
Sumiu, nunca mais foi visto na noite. Nunca mais, bebidas, violão, conversa com amigos e meretrizes. Acordava cedo, vestia-se bem e até trabalhava em um pequeno escritório de contabilidade. Um dia foi chamado pelo chefe que lhe pediu para visitar um possível novo cliente, dono de um bar. Negou-se  alegando que sua esposa não o deixaria ir a um bar. O chefe compreendeu a situação e chamou outro para a tarefa, e sussurrou para si mesmo; Casa-se o mar e ele fica manso!   

18 de out. de 2010

PERIPÉCIAS

Já era hora, na verdade hora e meia, perdi o almoço. Vesti as calças e saí. Voei dali, saltei, me arredei, me fui e deixei a Magra dormindo. Como frango e não me apaixono por ele porque com a Magra seria diferente?
Mente confusa resolvi ouvir os mais velhos, coloquei o CD da Nona de Bethovem, fui no talo, rodei pela cidade ouvindo a velha. Não adiantou, não clareou nada na minha cabeça. Bebi meio litro de Clorofina, nada. Poderia ser falta de energia, engoli duas Ray-o-Vac, nada.
Chegou a noite, confusão, falta de energia. A vida monótona, devagar e eu ali vivendo lento. Precisava de emoção, impacto,bater de frente, me jogar no mar, assistir Passione. Pensei em todas as mulheres da minha vida, só tinha a Magra. Iluminou, tive uma idéia, comprei um diário.

12/01/2010
Querido diário!
Hoje te comprei. Comi a Magra.

13/01/2010
Querido diário!
Comi a Magra.

14/01/2010
Querido diário!
Comi a Magra.

15/01/2010
Querido diário!
Comi a Magra.

...

10/03/2010
Querido diário!
Comi a Magra.

...

10/06/2010
Querido diário!
Comi a gorda.

...

13/06/2010
Querido diário!
Nasceu!

14 de out. de 2010

FIQUEI SABENDO

- Que José de Alencar era apaixonado pela AMÉRICA em seu romance O guarani usou a letras para criar IRACEMA. Viu Iracema!


- Que Jesus esta em todo o lugar. Viu Roberto Carlos, não precisa gritar; Eu estou aqui!


- Que a música; Eu era um bêbado, vivia drogado. Encontrei Jesus ! Não é da Madonna.


- Que o Raul só era Raul quando estava vindo, quando estava indo era Luar.


- Que no Atacâma, para sair do buraco usa-se uma cápsula e aqui só pedindo no Banco.


Isso ai entre outras coisas que ainda hei de ficar sabendo.

POESIAS PÔ

DOCE AMOR
Tive amores fluídos,
eram como licor.
Tive amores pastosos,
eram como o mel.
Tive amores tenros,
eram como doces.
Tenho um amor constante,
são duas doses diárias de insulina.


BRILHANTE
Pedra de brilho intenso,
encontrada em brutais lides.
Lapidada por laboriosas mãos,
adorna a jóia com intenso brilho.
Encanta olhares nos salões,
ilumina o mágico bailar.
No breu da noite não brilhas,
brilha o cu do vagalume.


DOR
Lâmina gélida que me corta.
Adaga maldita que me trespassa.
Espada de aço cruel.
Curva-me o corpo cansado.
Prende-me neste cubículo.
Faz-me gemer.
Gritar.
Espero um anjo que cure hemorróidas.


MOÇA
Passas por mim na rua
numa pressa só tua.


Atraindo meu olhar matreiro
ao encontro do teu traseiro.


Penso em fazer-te oferta
mas uma idéia me desperta.


E se for moça de bordel?
Não quero ser coronel.


Aguardarei o tempo passar
sei que o dia vai chegar.


Serei então vitorioso ao saber
da tua bunda em promoção.

TRAUMA

Eu era um guri e ouvi o padre falar que Deus fez primeiro o homem e depois a mulher. Até hoje me sinto um rascunho.

13 de out. de 2010

MEIA IDADE

É qualquer coisa entre os 40 e 55 anos, entre uma juventude que não volta e a velhice que já vem, qualquer coisa entre tudo bem e já vai doer. É quando a gente começa a pensar que sabe mais que todo mundo.
O sujeito de meia idade da palpite em tudo, palpite não, expõe e impõe sua experiência que absolutamente não existe. O que diz é dito como certo e definitivo, pensado e vivido. Tem tanta certeza de que sabe de tudo que quando não sabe mente.
Na área da medicina o sujeito de meia idade mata, deixa aleijado ou manda para o hospital amigos e parentes com suas receitas e truques para depois, prepotente, julgar necessária e imperiosa a presença de seus conhecimentos no velório.. Quem mais poderia entender a dor dos que ficaram, quem mais seria capaz de conduzir as ações para a família amordaçada pela perda? Chega com horas de atraso e garante a viúva que esta tudo providenciado.
Quando se mete em mecânica a coisa é mais branda, afinal seus conselhos causam apenas danos materiais. Alguém falar que vai levar o carro na oficina é prato cheio, pronto para receber colheradas de falação do sujeito de meia idade. Quando alguém fala que vai trocar o carro, bom ai sim, ele sorri por dentro, acomoda-se numa cadeira e inchado de glória pergunta; Qual o carro que vais comprar? Acreditem, ele não espera o incauto responder e discorda terminantemente. Alega, explica, demonstra que melhor seria outro carro, outra marca, outro modelo e jura que conhece um lugar que tem esse carro por muito menos do que o incauto pensa. Jura e o incauto acredita. Três semanas depois o incauto compra o carro que queria por não encontrar o do sujeito de meia idade, e um detalhe paga mais caro por que os preços subiram.
Sexo, para o mundo, homens, mulheres, etc. o sexo é um mistério, mas para o sujeito de meia idade não, não mesmo. Ele sabe quem é quem em matéria de sexo. Ninguém é o que pensa e sim o que ele pensa. Ninguém dá o que dá e sim o que ele acha que dá. Mulher bonita ou deu para ele, ou vai dar para ele ou ele não quis. Na verdade só comeu uma ou duas. Provavelmente uma prostituta quando estava bêbado e a esposa quando estava são, mas acha que sabe como quem comeu todas. Mente que já traçou tantas que só lhe resta acomodar-se. Claro que essa acomodação pode desmoronar com qualquer bagulho lhe pedindo fogo em estação rodoviária.
Esporte e política. Sua preocupação maior é de que todos saibam que só não foi jogador profissional por preferir os estudos. Político então nunca foi seu sonho, embora tenha sido convidado inúmeras vezes. É categórico, se tivesse aceitado ganharia qualquer eleição para qualquer cargo. Detalhe interessante é que o sujeito de meia idade conhece todos os jogadores profissionais e políticos dos tempos em que eles não eram nada, até hoje eles o conhecem, são seus irmãos, amigos.
Cultura, nisso o sujeito de meia idade é imbatível. O jovem diz que não sabe, o velho escapa, ele não, ele mente. Já leu todos os livros dos quais ouviu falar o titulo. Diante de um quadro do Picasso faz pose de quem entende e comenta; Lindo, soberbo! Sai da frente do quadro satisfeito com sua atuação e cada vez mais ciente da ignorância que teima em não admitir.
Coisas do coração. Para o sujeito referido essas coisas não apresentam segredo, desde as anginas, enfartos até os problemas de amor ele já teve quase todos, só falta o enfarto que não vai ter por causa de um chá que ele toma e jura que desmancha gordura e limpa as suas artérias.
O sujeito de meia idade chama a filha e enche os ouvidos dela de conselhos baseados nas estórias que viveu, na verdade só namorou a mãe dela. Ensina-lhe a evitar os ataques dos meninos que na verdade se defendem dela. Explica que as coisas do coração são passageiras, mais tarde ela vai conhecer um jovem que vai ama-la e desposa-la. Cara de sabedor espera pela próxima pergunta da amada filha e boquiaberto ouve-a; Pai, e para me comer, vão demorar muito?
Agora o seguinte, chega de tripudiar o sujeito de meia idade vamos destacar algumas qualidades, nem tudo nele é ruim, por exemplo, o sujeito de meia idade é um... é um... é um... Sei lá. Ah, sim ! Digamos que você esteja com algum problema de saúde, amor, problema no carro, essas coisas, chama um sujeito de meia idade. Pode não lhe dar a solução mas é certo que lhe dará pelo menos uns dezoito conselhos. Vais me indagar se isso é uma qualidade. Muitas vezes viver de ilusão é ótimo!